terça-feira, 29 de março de 2011

A música de Callado

Por Pedro Paulo Rosa


Nosso repórter de plantão não hesitou e foi até João Callado para obter uma entrevista mais profunda, tirando de João informações sobre música e estilo musical e a vida musical do artista desde sua infância.


O Hélio: Você lançou o seu CD solo pela Biscoito Fino. E, inclusive, desenhou a capa. Conta um pouco sobre todo este processo do seu lado autoral e também desenhista.

Desde criança eu desenho e componho, e desde então tenho praticado e estudado isso. Hoje em dia a música é a minha principal profissão, mas eu continuo desenhando e pintando.

A capa do seu CD.

O Hélio: Como foi o seu primeiro contato com a música?

Meu pai é músico (http://www.dicionariompb.com.br/marcio-pereira) e foi professor da banda do meu colégio, e durante essa época (nove a dez anos de idade) tive contato com alguns instrumentos. Comecei a tocar violão e guitarra com uns nove anos. Mas ouvia música desde sempre.

O Hélio: O quê a música mais modifica em sua maneira de enxergar o mundo?

A música torna o mundo possível.

João Callado e Teresa Cristina.


O Hélio: Conexão Carioca: Lembra-se de hábitos, brincadeiras, comidas da terra natal? Quais? Conte-nos.

Eu sou do Rio e sempre morei aqui. Passei minha infância em Copacabana e na Gávea. Não tem nada muito pitoresco.

O Hélio: Quem foi ou ainda é o seu padrinho ou madrinha?

Não tenho padrinhos e madrinhas na música, mas muitos professores: meu pai (Márcio Pereira), Wanderson Martins, Jayme Vignolli, Bia Paes Leme, Mauro Diniz, Márcio Almeida, Henrique Cazes, Caio Senna, Ivan Fonseca e muitos outros!

O Hélio: Como foi integrar bandas de músicos como Teresa Cristina,e ter acompanhado Marisa Monte, Paulinho da Viola? Fala um pouco dessas suas experiências.

Eu toco com a Teresa desde 1998, e hoje em dia, além de amigo e parceiro em algumas músicas, sou seu diretor musical. Já acompanhei Marisa Monte e Paulinho da Viola em participações que eles fizeram com a Teresa

O Hélio: Pode explicar o nascimento do Grupo Semente?

No começo de 1998 comecei a tocar com a Teresa e o Bernardo Dantas, um pouco depois entraram Pedro Miranda e Ricardo Cotrim, e em agosto começamos a tocar no Bar Semente, na rua Joaquim Silva. Depois fomos batizados de Grupo Semente, acho que pelo João Pimentel.

O Hélio: João, como classifica a influência dos seus pais na sua música ou isto nem lhe passa pela cabeça?

A minha família é muito envolvida com as artes. Além do pai músico e do avô escritor (Antonio Callado), minha mãe trabalha com teatro (Tessy Callado) e meu primo também é músico (Marcos Moletta, que foi integrante do Forroçacana e hoje em dia toca com o Moraes Moreira). Eu cresci cercado de livros e discos, e desde sempre tive muito interesse por isso.

O Hélio: A pirataria o atrapalha, incomoda. Se sim ou não, porquê?

Incomodando ou não, a pirataria via internet é uma coisa inevitável hoje em dia. É um golpe duro pra quem vive de direitos autorais, por outro lado você acha e baixa de graça praticamente qualquer música, partitura, filme. Uma faca de dois gumes.

O Hélio: A Lapa está cada vez mais sendo ressignificada por conta do potencial turístico e dos nomes que vem lançando. A que atribui este progresso? Muitos nomes são lançados por lá, não é? Comente.

Acha que é uma combinação de fatores: investimento de empresários naquela área e um maior interesse da classe média pela música tradicional carioca (principalmente o samba). Pra nós músicos é um dos principais mercados de samba na noite carioca.

O Hélio: Você acredita que a música, assim como o esporte, é um grande facilitador para a transformação social? Conhece, faz parte ou admira algum projeto de inclusão social através da música?

Com certeza. O Brasil precisa ensinar música nos colégios. Precisamos aproveitar a nossa musicalidade. O Mestre Trambique, meu colega de Grupo Semente, ensina percussão para crianças de comunidades, e já tirou muita gente da criminalidade.


O Hélio: Pode falar sobre suas parcerias musicais mais marcantes?
Teresa Cristina, Moyseis Marques, Mauro Aguiar, Fernando Temporão, Ivor lancellotti, Ana Costa, Edu Krieger. Além de ter parceria com todos eles, são compositores, músicos e pessoas que eu admiro muito.

O Hélio: Por que o cavaquinho?

Comecei a tocar cavaquinho já velho, com 23 anos, mas foi uma grande paixão, gostei do fato dele ser pequeno e ter muito som.

O Hélio: Quais são os seus trabalhos atuais?

Além de tocar e ser o diretor musical da Teresa Cristina, e de tocar em outros trabalhos ocasionalmente, acabei de produzir o CD da cantora e atriz Inez Viana, estou produzindo o CD do meu primo Marcos Moletta, e esse ano devo fazer arranjos e direção musical de dois espetáculos teatrais. Além disso devo começar a gravar meu 2º CD ainda este ano.


O Hélio: Como enxerga as novas vertentes musicais, como Restart, Fiuk etc? Clássico (erudito) e popular andam juntos ou nunca estão separados?

Eu conheço pouco esses artistas que você citou. Acho que a música brasileira está cheia de ótimos músicos e tem uma tradição maravilhosa, acho que falta mais espaço pra novas composições. No meu trabalho como compositor eu procuro juntar o clássico com o erudito.

O Hélio: Qual seria a dica que mandaria para jovens que querem fazer da música sua profissão? É possível? Mesmo sendo da classe baixa?

Acho que você sempre deve fazer o que você realmente gosta. É melhor ser um músico bem sucedido do que um advogado medíocre.

Um comentário:

  1. Valeu a entrevista com o Caco e o Marcelo, uma busca que resgata de certa forma a essencia angustiada do Homem e sua expressão na arte. muito instigante a visão de um momento da cultura humana onde tudo parece ter sido tentado, escrito, falado, musicado... Arte X Entretenimento; ou artentretenimento . . .
    tenho por vezes uma impressão de perda de sentidos esteticos e de proporção, comose tudo que se faz em arte tivesse o mesmo valor, um certo senso de "anything goes" no ar.
    Curti muito o blog, Pedro Paulo!
    RoFavilla

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