Foto: Luana Dias
Revisão textual: Paulo Cappelli
George Israel fala sobre sua carreira solo e sublinha nessa entrevista ao O Hélio o seu lado compositor, autoral. Suas opiniões acerca da produção musical contemporânea mostram um discernimento de quem está experiente nessa larga estrada da arte. Com humildade e vigoroso talento, esse músico traz nuances pouco conhecidas de sua carreira.
O HÉLIO: Explica como nasceu a ideia do projeto 13 parceriais com Cazuza.
GEORGE ISRAEL: Teve um evento em homenagem ao Cazuza e me chamaram para participar. E eu nem sabia o número exatos de canções que eu tinha com o Cazuza. Quando eu fui ver, tinham várias músicas que eu nem lembrava. E aí comecei a rever as músicas, escutar, pegar no violão. Me concentrar, recordar das letras. E fui vendo quanta coisa bacana que estava engavetada, estava solta. De repente, me deu essa vontade de fazer, de naturalmente construir o projeto. Me deu esse estalo, porque a maioria das pessoas não sabia que eu tinha tantas músicas com Cazuza. Algumas canções até inéditas. Muito legal fazer esse mergulho.
O.H.: E como é gravar um disco solo?
GEORGE: Eu já tinha gravado outros dois discos solo e não pensava em fazer outro. Na verdade, você coloca muita energia para construir um disco. Colocar músicas novas. É legal você formar um repertório, mas cansa. Quando apareceu essa ideia das parcerias com Cazuza, eu quis topar e fiz.
O.H.: Se é que dá para ressaltar, o que te marcou mais compondo com Cazuza?
GEORGE: Cara, é uma coisa que foi crescendo. Com esse disco, meio que eu tomei posse dessas músicas. De uma certa forma, não eram músicas que eu usava muito. Até por conta do Kid Abelha mesmo. No nosso CD acústico, gravamos “Brasil”. Depois disso, percebi que as músicas com o Cazuza têm uma força. Frequentei muitos lugares de poesia e neles vi como a minha poesia e a de Cazuza tomavam uma outra dimensão. Comecei a perceber que era um parceiro importante dele e não estava tomando isso para mim, não me via dessa forma. Foi muito boa a aproximação com a Lucinha e com o João (pais de Cazuza). Eles foram muito legais comigo. Sempre me valorizaram muito como parceiro e músico. Fiquei feliz porque você se associar a alguém com essa validade literária e com essa força que tem a poesia e a força dele é muito bacana.
O.H.: Por que você escolheu o sax?
GEORGE: Cara, não sei se escolhi. Meu lance era compor, tocar violão. Mas, tinha esse lado de jazz, de bossa nova, de música negra. Que são coisas que usam muito sax. Não era um cara que achava que tinha uma musicalidade especial, que era virtuoso em um instrumento. Esse instrumento me veio como uma ferramenta dentro de uma onda de tocar com outras pessoas. O que eu curtia era cantar com outras pessoas. Escolher o sax foi um acaso: estava fora do Brasil, em Israel, Europa, Estados Unidos e não estava com violão. Ouvi uma banda tocando num porão na Alemanha e um dos músicos tocava saxofone. E aí... é um instrumento sedutor, mágico! (RISOS) Curto muito isso. Caixinha de veludo e tal. Aí rolou uma circunstância, uma proximidade. Comecei a tocar sax uns quinze dias depois. Não foi difícil, e com a cabeça de arranjador que tenho isso me facilitou. Com isso, fui direto tocar nas bandas que eu já tinha. A galera ficou amarradaça e eu curti bastante. Porque sax traz um colorido bem gostoso.
O.H.: Como nasceu o nome Kid Abelha?
GEORGE: Foi batizado na rádio Fluminense, ao vivo. O programador nos ouviu na hora e não tinha ideia do nome da gente. E a gente era isso mesmo, sem nome, independentes. No Rio estava rolando o Circo Voador bombando. Quando fomos ver, gravamos CD. Chamamos atenção do pessoal da Warner, o Lulu Santos e o Liminha ouviram. O “ Pintura Íntima” nasceu e bombou mesmo.
O.H.: Analisando o rock que você viveu e produziu com o rock de agora, como é que você tangencia essas mudanças? Você acha que o rock dos anos 80 constatava mais do que o rock atual? Me fala da sua visão enquanto profissional da música.
Eu acho que o rock de hoje é um rock de mercado. É uma música que é só uma roupagem de som. Não tem muita distância em termos de... (suspiros) Acredito que todos que tocam curtem a música. Por isso, respeito. Mas, está muito de mercado. Ser comercial não tem o menor problema. Podemos ser comerciais e termos a melhor qualidade. Por exemplo, o Kid Abelha, por ser pop, foi muito criticado. As pessoas achavam que a gravadora impunha que a gente fosse pop. E não foi nada disso. A gente nunca premeditou. As pessoas não entendiam que o ritmo nascia naturalmente. O Kid é bem peculiar. Sinceramente, assim, no mercado a pessoa tem um faro. Como criador, você pode fazer várias coisas. Mas, quando você está começando, tem que conseguir achar as lacunas do que nunca foi produzido. E o Kid achou esse buraco, essa lacuna onde a gente conseguiu criar algo nosso, com nossa linguagem musical. Hoje, essa diversidade deve continuar existir, mas o que eu escuto de rádio atualmente não me emociona. Sinceramente. Tem coisas ótimas em bandas desconhecidas. Mas, naquilo em que o mercado acredita, não me emociona. Nós temos ciclos. Agora, é o sertanejo. Amanhã, será outra coisa, sabe? Mas, tem outras pessoas tocando, fazendo música. Olha o Fred ( Fred Israel, filho de George, que assiste à entrevista ao lado da namorada) tem uma banda. Acho o seguinte, o rock tem uma coisa que o Blues e o Jazz também tem: é um estado de espírito. É uma onda de som. Pode entrar ou sair moda, que essa onda fica. Quem vai para o lado da música, vive isso de uma certa forma. É uma linguagem de expressão. Agora, daí, você conseguir fazer um trabalho autoral e interessante e ainda conseguir furar o mercado são outros quinhentos. Uma vez fui júri e notei muita gente boa fazendo som excelente. Sempre aparece coisa nova boa.
O.H.: Por exemplo?
GEORGE: O Los Hermanos. Veio depois de nós. E é uma banda que tem um jeito de compor diferente, o approach é outro. É rock brasileiro mesmo. Demorei um tempo para entender, mas depois fiquei amarradão. Eles são misturados. E muito bons. 80 foi muito peculiar.
O.H.: Você, atualmente, então, está conciliando carreira solo com o Kid Abelha?
GEORGE: Sim. Com essa coisa de banda, é mais difícil. Gostaria muito de fazer show todo dia com banda e tal. Mas é impossível. Você vai fazendo tudo. E agora voltou o Kid também depois de três anos. Vi que dá para fazer as minhas coisas.
Com visão ampla e reflexiva sobre a música, George Israel transita bem entre os meios alternativos e de grande mídia da música brasileira, mostrando o quanto o rock pulsa como "onda" em sua vida.
Ótima entrevista com uma verdadeira lenda da música brasileira! A experiência do cara diz tudo e esse nome de beatle ajuda hehe! Parabéns pelo trabalho que vem fazendo, proporcionando ótimas leituras! Um abraço
ResponderExcluirMais uma entrevista bem bacana, Pedro. George, junto com o Kid, é lenda! O Hélio sempre de parabéns.
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