Daniel Lopes conversa com O HÉLIO sobre seu atual trabalho na área da música. O CD BONITO é, de fato, uma obra de arte sensível e para ouvidos apurados, que fecham os olhos ao escuro belo do som. Publicitário e músico, Daniel Lopes congrega as duas atividades com aparente calma. Em seu leque de influências musicais, ele destaca o compositor e cantor Leoni (que já conversou também com O HÉLIO) e Tom Zé.
O HÉLIO: Conta
um pouco do seu arrebatamento primeiro com a música. Pensava em alguma outra
profissão totalmente diferente antes?
DANIEL
LOPES: Minha iniciação na música começou aos 5, 6 anos de idade, através do meu
pai que tocava violão, e tinha muitos discos… quando tinha 6 anos ganhei um
tecladinho casiotone e descobri que conseguia tirar melodias de ouvido. A força
das melodias e harmonias sempre foram essenciais pra mim, e me chamava a atenção
os sentimentos distintos que os acordes podiam passar… Mas nunca tinha me
interessado em tocar profissionalmente, coisa que foi acontecendo paralelamente
enquanto cursava publicidade. Acabei abrindo uma produtora de áudio para
publicidade, conciliando as duas carreiras, musical e publicitária, e até hoje
atuo nos dois universos.
O Hélio: Se você pudesse pontuar o que mais
peculiar tem em Bonito, o que pontuaria?
DANIEL: Minha
busca pessoal pela descoberta da beleza… o que representa o belo pra mim.
O Hélio: Como foi a escolha desse nome? O Daniel é
uma pessoa muito conectada aos sentidos e significados da palavra (risos)?
DANIEL: Tive
essa ideia na mesma época em que viajei pra Bonito (MS) pra fazer um show. Esse
nome é muito provocante e ficou na cabeça. Pode revelar modéstia, no sentido de
não se auto-definir como excepcional ou fantástico, ou pretensão por propor uma
qualificação que não deveria partir de mim, e sim de quem consome a obra. De
qualquer maneira, acho que a palavra define muito minha intençao, ou o que eu
gostaria de alcançar ao compor essas musicas. Nesse caso, o significado da
palavra , ou os muitos significados da palavra, foram muito importantes.
O Hélio: Lendo sobre seu
trabalho e te escutando, é impossível não ir para um lugar de paz, de mantras
mas também de choques melódicos de bom gosto. Fala um pouco disso.
DANIEL: Uma
vez ouvi o Tom Ze falando sobre o conceito "música da natureza".
Dizia ele (modestamente demais, aliás!) que fazia música com o racional, com o
pensamento, por não possuir o dom da "musica da natureza". Eu achei
aquilo muito curioso, e pensei em quem estaria no outro extremo: Debussy?
Mozart?. Nao sei se esse conceito é pertinente, mas busquei essa ideia da
música da natureza na tonalidade, nos modos... nos significados embutidos em todos
nós culturalmente a cada acorde. A tal busca do belo… harmonias, sensações… é
por ai.
O Hélio: Quais os novos desafios
que esse novo trabalho deseja transpor?
DANIEL: É
um disco de música delicada… Gostaria muito que nos tempos de informação
excessiva e frenética algumas pessoas achassem o tempo pra apreciar algo que não
grita e não berra… que esta ali pelos detalhes.
O Hélio: De que maneira avalia o atual ambiente de
produção musical brasileira, Daniel?
DANIEL: Muita
gente muito boa produzindo... Muita gente mesmo. E ao mesmo tempo, sinto falta
de um crescimento de público… Parece algo inversamente proporcional,
infelizmente.
O Hélio: O que ainda precisa ser dito pela MPB?
Aliás, considera a sua música MPB?
DANIEL:
Não sei se ela ainda precisa dizer algo. Talvez você se refira à tradição
política dos festivais, dos dribles à censura. Hoje, acho que MPB
incorporou a música globalizada do mundo. Talvez não fale mais de sua própria
tribo. De qualquer forma, por ser tão ampla, sempre aparece alguém novo, como o Criolo falando da periferia de São
Paulo. Criolo é MPB? Pode ser… é um rótulo onde cabe muito. Então, no meu caso,
posso ser MPB pra alguns, e pra outros não… não me preocupo muito com
isso.
O Hélio: Me conta de uma
referência forte na sua carreira. Seja ligada à música ou não.
DANIEL: Leoni
é uma referencia fortíssima pra mim. Um cara que não é valorizado como deveria,
aliás… Um compositor voraz, que não para
nunca. Compõe por necessidade. E assistir isso de perto por alguns anos foi
inspirador pra mim.
O Hélio: O vazio, o silêncio, são elementos que lhe
ajudam no processo de composição?
DANIEL: Mais
do que o silêncio, a solidão pra mim é importante… Bonito foi composto quando
eu morava sozinho, num apartamento como uma varanda grande, em um andar baixo.
A nostalgia do barulho dos carros passando era uma constante. Gravei esse som
no celular e usei em "Medo de Avião".
O Hélio: Um recado para quem
ainda não teve a bela experiência de conhecer o seu som.
DANIEL: Conheça!
É um disco verdadeiro, de vida exposta. Se você embarcar nele, ele vai te
fazer bem.
O Hélio: Agenda.
DANIEL: 9
de outubro, as 20h30 na Miranda (RJ) no projeto PatuÁ
Novembro
em SP e MG.
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