sábado, 10 de março de 2012

GUILHERME JÚNIOR - VONTADE DE SER INFÂNCIA



Por Pedro Paulo Rosa
Foto: Ravini Padilha
Revisão textual: Paulo Cappelli 



O idealizador do I Festival de curtas-metragens da Vila Kennedy (16 a 18 de março, no teatro Mário Lago, na vila Kennedy. Projeto apadrinhado pelo cantor Toni Garrido), o artista plástico, fotógrafo e produtor cultural Guilherme Júnior mostra sua vertente como cineasta nessa nobre empreitada de fazer do audiovisual ponte de boas histórias.


Guilherme começou a sua luta desde cedo, quando criança entrou na magia da literatura através do gibi de Maurício de Souza; na juventude, foi estudar Belas Artes na UFRJ e hoje tem uma bela história de superação a compartilhar. Saiu da sala do consulado norte-americano após ter sido negado nos EUA para ser, mais tarde, o ganhador do concorrido prêmio de fotografia World Photography Awards, em Cannes, na França. 




O HÉLIO – O que mais me impressionou no seu documentário foi a superação. Queria te perguntar sobre a sua infância. Como é que foi?

GUILHERME JÚNIOR – Posso dizer que foi humilde, mas uma infância normal. Sou o terceiro de quatro filhos. Meus pais sempre deram muito valor à educação. Meu pai sempre trabalhou, não tive muita presença dele na minha vida. Meus pais são casados até hoje. O trabalho fez com que meu pai só participasse da minha vida nos finais de semana. Um dos meus irmãos tem problemas mentais, mas vive conosco. Ele é aposentado por invalidez.

O.H.: Quando você fala que quem nasce em comunidade pode ver, sim, uma luz no final do túnel, o que você está querendo dizer com essa afirmação?

Guilherme – Quem nasce em comunidade tem a possibilidade maior de se envolver com o crime do que quem não nasce na comunidade. Citei os meus pais justamente porque eles me mostraram o caminho. Isso foi muito importante para mim. Moramos numa comunidade que ainda tem muitos problemas com drogas e violência, a Vila Kennedy. Acho que esses problemas estavam tão próximos de nós, que meus pais sempre me alertaram desse perigo. Eu, antes de qualquer coisa, parava e pensava nas dicas que meus pais sempre me deram. Isso foi um ponto primordial para o fato de, hoje, buscar a melhoria do local onde moro. Possibilidade de entrar para o mundo do crime, eu tive muita. Mas, dei sempre muito valor à educação e aos estudos. Acho uma idiotice se envolver com o tráfico. E utilizar droga nunca me chamou atenção. Mas, sei que nem todos têm uma família estruturada. A rua atrapalha e deslumbra qualquer pessoa de mente fraca.



O.H.: E a rua da comunidade não é a rua da cidade? Como é que você acha que a favela está sendo cidade também, está se transformando em ambiente urbano também?

Guilherme: Acho que está sendo cidade porque os moradores de favela, agora, estão tendo um certo respaldo por mostrar o seu valor. Antes, a favela era vista como um palco de marginais. Hoje em dia nem tanto. Porque a gente tem meios de mostrar a nossa cara. Acho que a internet, a televisão tem dado essa possibilidade. E isso é recente. Há dez anos, isso não ocorria.

O.H.: O que fica mais claro, nessa diferença entre cidade e favela, ainda é a ausência de serviços públicos?

Guilherme – Com certeza. E também a má educação. Se você não tem uma estrutura em casa para mostrar aos jovens que eles precisam ir à escola para se profissionalizar, eles não vão se interessar.

O.H.: Você estudou em colégio particular?

Guilherme: Eu? Estudei. Meu pai via que eu tinha...que eu gostava assim, e então ele resolveu investir. Eu sempre fui muito esforçado, sempre corri atrás dos meus sonhos. Tenho muitos. O principal é viver da arte. Hoje, ainda não consigo viver da arte totalmente, mas estou no caminho. E não preciso me vender.

O.H.: Se vender seria o quê?

Guilherme: Seria se vender para o mercadão de trabalho. Sei que é complicado se sustentar na área das artes.

O.H.: Trabalhar na Globo, por exemplo, você acha que seria se vender?

Guilherme: Nem tanto, porque trabalharia na minha área. Queria ter a experiência. Todo mundo sabe que a Globo é um dos principais meios de comunicação do mundo e do Brasil.

O.H.: O que você acha que determina mais no sucesso do sujeito, a busca, o esforço próprio como na sua vida você fez e teve ou é o colégio público ou particular que o sujeito recebe?

Guilherme: Ambos. Se não houver interesse do aluno, por mais que o colégio seja melhor, não vai influenciar. Tenho amigos que estudaram comigo e trabalham vendendo gás ou como engraxate. Sempre fui muito determinado com a profissão que gostaria de exercer, ou seja, ser artista. Mas, já mostrava muito a minha cara quando era criança, gostava muito de receber elogios dos meus professores das coisas que inventava. E os desenhos e as redações sempre ao meu lado. Sempre estava rascunhando. Meu pai trabalhou um tempo para a editora Globo e levava muitos gibis lá pra casa, eu amava, ficava vidrado com a “ Turma da Mônica”. Na minha infância, acho que o Maurício de Souza foi o autor que mais me tocou. Até hoje me toca, apesar de não acompanhar mais.

O.H.: Por que você acha que o audiovisual está entrando na favela com tanta força, a exemplo do Festival Curta Vila Kennedy?

Guilherme: Pela evolução mesmo dos meios de comunicação. Hoje em dia está tudo mais barato, em termos de tecnologias. Você pega uma câmera de celular e a partir dali pode contar uma história. Comprei minha primeira câmera digital, quando ainda era 2.1 mega pixels. Isso faz um tempo, ainda fazia faculdade. Achava que minha câmera era a melhor do mundo (RISOS) E era a pior! Tinha memória de um minuto. Gostava muito do Legião Urbana. E resolvi fazer um filme com esta temática. Comecei a filmar e a fazer umas encenações cantando a música do Legião e sempre assim, com muita paciência, rodei o Rio inteiro. Filmava um minuto e ia descarregar. E uma amiga minha falou que estava rolando um concurso de vídeos numa rádio, isso faz uns seis, sete anos. Era um concurso na MPB FM. E, de repente, recebo um email dizendo que receberia um prêmio no Teatro Rival. Nem imaginava que ia acontecer isso! E a entrega foi lá, tinha um monte de gente. O prêmio foi um home theater, que dei para minha mãe. Foi muito bom. Um dia, acho que um produtor que assistiu trocou contatos comigo para fazermos trabalho em audiovisual. Ali, me descobri um artista multimídia. Antes, era só um artista plástico.




O.H.: Como artista plástico, como destaca suas preferências temáticas?

Guilherme: Gosto muito de arte näif, e como tema curto muito a infância, o lúdico. Gosto muito dessa linguagem que a gente tem desenvolvido que é a linguagem de favela, tudo muito colorido, criançada correndo pelas vilas, soltando pipa. Tenho desenvolvido alguns trabalhos nesse sentido.

O.H.: Você concorda com a transposição de linguagem que está sendo feita com relação à favela hoje em dia? Falo com relação desde programas televisivos ou até discursos publicitários atuais que enxergam a favela e o “ser carioca” como marca. Ou seja, favela enquanto mercado cultural ou produto de consumo pela classe média e rica do país. Ou, favela como lugar de “safári” do turismo.

Guilherme: Muito bom você estar tocando nisso, Pedro. Sou meio pessimista com relação a isso. Se não houver uma conscientização da classe média, as coisas se complicam. A gente pode interagir, mas cada um tem o seu cada um. O que acontece no “Esquenta”, por exemplo, é um programa interessante, mas tem coisas ali que ultrapassam limites. As pessoas que opinam no programa, geralmente, estão “no lugar de cima” e querem ser coadjuvantes do cotidiano da favela, querem brincar de ser da favela ou de conhecerem muito esse espaço. E vender uma imagem de inibição. Mas, se perguntarmos a eles onde eles vão dormir, com certeza essas pessoas irão descansar em apartamentos da Barra ou da zona sul do Rio. Nunca dormirão numa favela, ainda mais numa favela com problemas de segurança. Acho interessante eles admirarem o modo de vida da comunidade, mas que cada um saiba o seu lugar. Não estou querendo ser nem parecer preconceituoso, mas sim, a classe média que se utiliza do cotidiano do favelado dessa maneira está querendo se aproveitar. As pessoas da favela estão cada vez mais mostrando a sua cara.

O.H.: E qual que é essa cara?

Guilherme: Uma cara de pessoas pensantes. Conforme tinha falado, para os outros antes nós não pensávamos. Hoje, as pessoas percebem que a gente pensa. Quem tem coragem de subir na Mangueira, dormir lá três dias e participar integralmente de um evento? Se eu quero ir a um evento que fica na zona sul do Rio, eu vou porque quero ir. Mesmo que seja para tomar três ônibus. Esse lance, por exemplo, de fretamento de vans para eventos em favela, acho super desnecessário.

O.H.: Como é o seu posicionamento político?

Guilherme: O que eu vejo na política atual é muito interesse. Voto nulo faz tempo. Acho que essas regalias que os políticos têm faz com que eles vendam uma imagem que não os representa de verdade, entende? Não estou generalizando, mas tem gente que nunca pensou na política e, do nada, por um comercial bacana, entrou na política. Estou muito desiludido. E eu sofro com a violência e com a descriminação e não vejo mudança. Se nós não fizermos mudança, ninguém vai fazer pela gente, muito menos os políticos. Penso assim.

O.H.: Acaba sendo uma relação de amor e ódio entre os moradores e o governo; as produções da favela e as entidades do governo, né? Por exemplo, o Festival Curta Vila Kennedy é financiado pela Secretaria Estadual de Cultura.

Guilherme: Exatamente. Antes, achava que jamais conseguiria patrocínio para uma produção da favela. Atualmente, foi bem simples. E essa grana da secretaria possibilitou o começo do Festival. Acho que consegui essa verba pelo interesse verdadeiro que demonstrei, lá na Secretaria, de ajudar o local onde moro. Para defender o meu projeto, toquei na ferida. Sei que o Governo Estadual do Rio é responsável pela segurança da minha cidade, mas não tenho nenhuma segurança deles. O Eduardo Paes, não preciso nem falar dos boatos de que os cabos eleitorais dele deram grana para as pessoas. Tem gente que realmente vende voto por causa de cerveja e churrasco. Ou coisas idiotas. Então, toquei na ferida porque falei de violência para defender a verba do projeto. Disse que não temos direito de ir e vir na nossa favela.

O.H.: Agora, Guilherme, mudando um pouco o assunto; sobre a liberalização do uso de drogas, como você, enquanto morador de favela, se posiciona frente a esse assunto?

Guilherme: Ora acho que a droga faz muito mal, ora acho que deve ser liberada. Já sofri muito por conta delas. Apesar de não ser usuário, se a violência atingiu a minha família, posso “agradecer” às drogas. Houve uma época que o Rio estava praticamente sitiado por cantões do tráfico. E meu bairro sofreu muito com isso. Muito dos usuários que compravam droga na Vila Kennedy não eram de lá, vinham de outros bairros e deixavam problemas imensos para minha família e a família de meus amigos. E a gente não tem o direito de ir e vir. Posso dever isso às pessoas que utilizam drogas. Você não mede as consequências enquanto se droga. Eu que estou lá dentro observando essa degradação, fico chateado. Porque atinge pessoas que nada tem a ver com isso. Acho que a liberalização da maconha e de outras drogas é um tema muito polêmico. Sei lá, o que poderia acontecer depois da liberalização? Será que as bocas de fumo continuariam bombando? Só acontecendo para a gente conferir como isso ia se dar. Meu ponto de vista é: não vou usar nunca. Não posso compactuar. Você acaba se vendendo e se tornando um problema para a família, para você mesmo e para a sociedade. Comprar é reforçar a violência da sua cidade.

O.H.: Você concorda que a favela tem elementos parecidos de coerção? Exemplo: o centro social do político, a igreja e as lideranças carismáticas; as ONGs, a juventude, e a velha guarda da favela. Você acha que essa composição é comum em todas as favelas ou não sente esse desenho na Vila Kennedy?

Guilherme: É...antes, era muito na minha, nunca fui de participar de movimentos políticos e até hoje não tenho vontade. O que percebo é uma briga de egos. Como você chama, esses elementos brigam por egos. Vejo muito isso nas igrejas. Esse mapa que você narrou é bem real sim. Concordo. Ao mesmo tempo, esses líderes se dialogam. É um querendo puxar o tapete do outro. Hoje em dia, vou a reuniões, à festas da igreja. Dias atrás fui a uma reunião budista lá na Vila Kennedy. Tenho percebido que o interesse político e o dinheiro são os dois fins dessas lideranças coercitivas. Agora, é interessante notar que os artistas não compactuam com esses elementos comuns que tem toda favela. Como eu, atualmente, estou mostrando a minha cara para a comunidade, os artistas me alertam, pedem para que eu tenha sempre cuidado a quem peço ajuda.

O.H.: Você concorda que a religião acaba sendo um marcador social, um ordenador de gênero daquela região?

Guilherme: Sim, com certeza. Os líderes religiosos são formadores de opinião e de pensamento. Esse é o perigo. Engraçado que tenho ido muito às igrejas para divulgar o projeto (Festival Curta Vila Kennedy). Boa parte da minha vida fui católico, mas não tinha o ponto de vista de que o mundo era nada e que o catolicismo era tudo. Você ficar muito tempo na frente de um altar, venerando uma coisa pode ser perigoso. Não me revoltei, mas pude me levar à libertação. Hoje em dia não me vejo mais fazendo como antes, mas respeito muito todas as religiões. Até porque, grande parte da minha educação está ligada a valores religiosos.

O.H.: De novo temos uma dupla relação de amor e ódio, de gratidão e ingratidão.

Guilherme: Exatamente! (RISOS) Ingratidão porque não tive oportunidade, por um tempo, de ter um ponto de vista, não havia possibilidade de questionar. A igreja não permite muitas vezes. Fui a uma missa há pouco tempo com uma amiga e fiquei reparando nos coroinhas, com seus 16 anos. Lembro que um dos coroinhas conheço desde pequeno. Minha colega ressaltou para mim: “poxa, ele não teve oportunidade de ver nada na vida além da igreja, né?”. Pois é. Ele não pode saborear outras coisas interessantes do mundo.

O.H.: Queria te perguntar em que te acrescentou sua temporada de um ano de estudos na Europa.

Guilherme: Acho importante termos sonhos. Mas, os possíveis. Sempre sonhei em estudar fora. A primeira vez que tive vontade de morar fora foi quando quis ir para os EUA para aprender a falar inglês. E comecei a guardar dinheiro. O que eu gastaria com meus amigos ou indo para o cinema, guardava. Quando vi que tinha uma grana legal, pensei nas viagens. Comecei tirando meu passaporte. Quando mostrei aos meus pais meus papeis para a assinatura dele, ele me perguntou quem ia pagar aquilo tudo. Eu disse que eu mesmo quem pagaria. Para gente, de comunidade, sair do país é surreal. E nunca quis deixar dívida para meus pais. Em comunidade, os pais sempre vão achar que você é o filho. Daí, fui lá no consulado. Mas, não sabia que teria tanto racismo e preconceito me esperando. Sofri mesmo preconceito naquele consulado. Ela me perguntou num tom agressivo: o que você vai fazer lá? Mora com quem? Seus pais podem sustentar a sua viagem? Ela sentiu que eu era independente e que poderia não voltar para o Brasil. Ela olhou para mim, afro-brasileiro. Sabe? Ela nem olhou para os meus documentos. Ela só me disse que não entraria nos Estados Unidos. Disse que não mostrei documentação suficiente que comprovasse que voltaria para o Brasil. Consegui juntar R$ 10 mil reais, os primeiros meses estava safos. Como sou muito ligado à infância, queria muito conhecer Orlando. Um lugar bem infantil. Mas, tive que voltar ao meu cotidiano, voltei ao meu chefe, pedi o emprego de volta. Estava tudo certo para a viagem, Pedro! Continuei a juntar grana e fui para a Europa. E foi muito interessante! Quando pus meus pés lá, as coisas se abriram. Sabe quando você não espera muito que as coisas aconteçam, e a natureza ajuda tudo a acontecer? O primeiro fato foi essa premiação de fotografia que ganhei em Cannes. Para você ter uma noção, no mesmo dia de pegar o voo para Portugal, recebi a ligação da Inglaterra informando que minha fotografia ganhou o concurso World Photograph Awards. E eu, como assim? (RISOS). Não imaginei que poderia ganhar, era um premio internacional. O premio consistia em duas viagens para Cannes, duas viagens para a Copa na África do Sul e um trabalho para a Sony. Quer dizer, eu estava saindo do Brasil já para ir para dois lugares diferentes. A minha emoção estava muito conturbada. Estava sendo assediado pela imprensa; depois que o premio foi anunciado, recebia várias propostas de entrevistas. Mas, foi muito gostoso. Quando se pensa em Cannes, se pensa em glamour, e é mesmo uma cidade muito bonita. Mas, tenho muito pé no chão. Foi algo que passou, não tenho mais vontade de viver isso. Cannes é lindo, mas todo mundo viu que ganhei um premio. Se não tivesse subido ao palco, ninguém ia chegar em mim. Foi tudo muito artificial lá, ninguém queria saber da onde vim. Sabe? Como que foi prazeroso para mim estar ali (suspiros).

Foto: Guilherme Júnior.
Com esta fotografia, Guilherme ganhou o prêmio World Photography Awards em Cannes, França


O.H.: O que mudou na sua concepção de arte e de vida, que você está trazendo agora para o Festival na Vila Kennedy?

Guilherme: Sempre fui muito pró-ativo, de não ter tempo. De dormir preocupado com o amanhã cheio de compromissos. E na Europa, apesar de estar longe de casa, aprendi a fazer minhas produções. Participei de muitas exposições minhas por lá.

O.H.: Quer dizer, você amadureceu a sua pro - atividade na Europa?

Guilherme: Exatamente. Amadureci e quis fazer a minha primeira exposição individual. E fiz. Foi tudo muito por adaptação. Hoje em dia, os europeus abriram as portas para mim. Por exemplo, não tinha grana para minha exposição. Não tinha grana para comprar meu material! Comecei a trabalhar com lixo. Aqui no Rio já tinha trabalhado com lixo reciclável numa escola de samba carioca. Lá na Europa, pegava os lixos dos meus amigos e os meus e ia juntando materiais bacanas de lixo. E ia vendo o que servia. A galeria que ofereci minhas peças tinha todo um diálogo com a sustentabilidade. Reproduzia trabalhos de artistas famosos, como Matisse e Picasso, em peças de lixo. Ficava imaginando o trabalho deles junto com o meu. O nome da minha exposição em Granada, na Espanha, foi “ Reciclar com Arte” e “ Eu Amo Lixo” em Porto, Portugal. E fui participando também de exposições coletivas, interagi com outros artistas.

O.H.: Sentiu algum preconceito lá fora?

Guilherme: Pelo contrário, fui muito bem recebido. É impressionante como me abriram portas. Tudo quanto foi lugar que conheci, tinha ou fazia um amigo. Teve uma vez, num hostel na Espanha, que fiz amizades com uns alemães, e meu inglês era capenga. Mas aí, a gente ia tomar cerveja e conseguíamos nos entender bem (RISOS). E esses amigos alemães, por exemplo, me proporcionaram uma excelente visita a Paris. Fui também andar pela Inglaterra e ia vivendo na casa das pessoas e passava dias! Então, essa relação que tive, Pedro, foi muito boa porque não sofri nenhum preconceito. Mas, conheci brasileiros e brasileiras que sofreram muito preconceito.

O.H.: Para fechar, qual o recado que você dá  a quem deseja participar do Festival Curta Vila Kennedy?

Guilherme: O festival é de 16 a 18 de março, no Teatro Mário Lago. É um projeto, como você bem lembrou, patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura. Quero fazer com que as outras pessoas possam ser aplaudidas mostrando o seu valor. Quero mostrar que dá para ser amador e profissional. Esse festival não é apenas para moradores; qualquer um pode participar, desde que o curta metragem tenha 15 minutos. Todas as três categorias possuem prêmios, apenas uma categoria é destinada aos moradores da Vila Kennedy. É só entrar no nosso site curtavk.blogspot.com Lá tem todas as informações. Dia 16 de março, começam nossas atividades a partir das 14 h e vai até às 22 h. Fizemos parcerias com Visões Periféricas, Ponto Cine, Viva Favela, Estética Central e a gente está divulgando muito e estamos querendo levar o Rio de Janeiro para lá e mostrar o que há de mais interessante na comunidade: os moradores. Tanto que a nossa publicidade é toda relacionada aos moradores; na Vila não tem só traficantes, tem muitas famílias, muita gente boa que quer mostrar suas virtudes e suas histórias.

O.H.: É o audiovisual como ponto de contato.

Guilherme: Exatamente. Como forma de mostrar coisas lindas. Porque eu sou de lá e pude mostrar o meu valor. Mostrei até para a Europa. A gente pode descobrir cineastas e atores excelentes depois desse festival.

O.H.: Para encerrar: você se sente na obrigação de ter ganhado o mundo e depois ter voltado à sua “terra” para compartilhar?

Guilherme: Com certeza! Eu sou muito de família. De mostrar para pai e mãe, sabe? Acho super interessante a gente ir lá fora, mostrar nossa cara e depois voltar para a sua comunidade e dar oportunidade para nossos conterrâneos. É muito importante, Pedro, que a Vila Kennedy saia na parte de cultura dos jornais e não só na parte policial. É bom saber que você está contribuindo para melhorar a imagem do lugar que você cresceu. Gosto muito de receber essa resposta, esse feedback. Isso é muito coisa de infância, de fazer o trabalhinho da escola e mostrar para os pais depois, sabe? (RISOS) Eu sou muito infância.


CONFIRA o documentário de Guilherme Júnior










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