Foto: Ancar Barcalla
Revisão textual: Paulo Cappelli
Julia Bosco está lançando o seu CD de estreia. Ela separa seu tempo para conversar com O HÉLIO sobre “Tempo”, nome que dá ao seu primeiro trabalho musical. De voz meiga e,às vezes, tímida, a cantora e compositora escolheu falar de amor, de encontro e de reencontros para se mostrar. Filha de João Bosco, ela mostra não ter medo das sempre recorrentes comparações.
O “Tempo” de Julia conta com a participação do seu pai e de Marcos Valle, e é produzido por Plínio Profeta e Fábio Santanna. Destaco como uma das melhores faixas do CD as músicas “ Na Oração” e “Play a Fool”.
O HÉLIO: Impossível não te perguntar: há medo de ser comparada com seu pai?
JULIA BOSCO: Existe um medo de que a curiosidade sobre o meu trabalho seja apenas alimentada por esta possível comparação, e com isso um segundo medo de que as pessoas, ao perceberem que não há comparação natural possível entre um trabalho e outro, forcem para que isso aconteça da pior maneira possível. São trabalhos absolutamente distintos, inclusive nas premissas mais básicas e fundamentais: João Bosco é uma marca musical construída em 40 anos de uma carreira sólida e constante, de um artista que não precisa provar mais nada a ninguém. Julia Bosco é um lançamento em fase de experimentação, com um longo caminho de erros e acertos pela frente.
O.H.: Por que o nome " Tempo" para o seu álbum de estreia? Homenagem, gratidão a ele...?
Julia: Sim: homenagem, gratidão e respeito! O Tempo esteve sempre ao meu lado, jogando ao meu favor, descontando unicamente o tópico "ação gravitacional sobre o corpo feminino" (risos). Eu não estava pronta psicologicamente para "sair do armário" como cantora, e então esperei. Dei tempo ao tempo e ele me retribuiu com um grande momento criativo e algumas pessoas que se tornaram essenciais para a realização deste trabalho. Então, só tenho a agradecer pela possibilidade da pausa.
O.H.: Como nasceram as 13 canções de "Tempo"?
Julia: Algumas já existiam e faziam parte de um repertório guardado do Fabio Santanna, mas eu me identifiquei tanto com elas e com ele, que me apropriei destas canções como se fossem minhas. As outras surgiram quando começamos a compor juntos. Eu nunca havia escrito música antes desse disco, estava acostumada a escrever longas prosas para o meu blog, mas canção é muito diferente. Então peguei carona na experiência do Fabio e começamos a contar coisas que se tornaram músicas feitas a quatro mãos: viagens, sonhos, medos, esperanças... Cada música tem uma verdade por trás, isso é muito bom na hora de compartilhar com as pessoas.
O.H.: Quando se decidiu pela música definitivamente, ou seja, largou o trabalho e focou nas notas musicais?
Julia: Quando fiz 30 anos tudo mudou. Eu costumo dizer que algumas mulheres se assustam e olham para Balzac de ladinho, só com o rabo de olho, com medo do que vão encontrar. Mas eu encarei de frente mesmo! Encarei as mudanças, procurei os vazios, remexi tudo que estava guardado dentro de mim e o que saiu pulando de dentro do meu corpo foi música. Entendi que era a hora. Passei a vida me preparando, não ia fugir quando fosse a hora. "The readiness is all", já dizia o príncipe dinamarquês: estar pronto é tudo!
E mesmo depois de me decidir por música eu continuava trabalhando como consultora de gestão, porque precisava pagar o disco! Só larguei definitivamente o crachá de funcionária da empresa quando não tinha mais dívidas a pagar e poderia recomeçar do zero, sem nada me atrapalhando, nesta nova empreitada.
O.H.: Conta como foi o encontro com o produtor musical Fábio Santanna.
Julia: Foi um daqueles momentos em que "júpiter se alinha com marte" e tudo dá certo... Eu estava procurando parceiros com quem me identificasse, alguém que tocasse um instrumento e pudesse estar comigo nessa busca por uma identidade nova, porque eu queria um trabalho pessoal, autoral. E o Fabio era essa pessoa: a gente tinha gostos complementares e tudo que a gente fazia se somava. Foi o cara certo na hora certa. Tornamos-nos parceiros musicais, parceiros de vida, e fizemos juntos esse disco, que teve também produção do Plínio Profeta além do Fabio.
O.H.: Como foi a construção da musicalidade na sua vida?
Julia: Foi como aprender a falar: natural. Não me lembro de nada, nem um único episódio da minha vida, que não me remeta a uma trilha sonora. Música sempre foi o tema principal da minha história e com isso eu fui desde cedo percebendo música de uma outra forma... Sempre prestando uma atenção especial às cantoras, às divas, e tentando imita-las, cantando com elas...
O.H.: Seu atual e primeiro trabalho toca em quais lugares da esfera humana?
Julia: Este primeiro disco é muito focado em questões sentimentais, no amor. Isso porque ele nasceu de um momento de amor, foi feito com uma espera muito grande, fundamentada e alimentada por amor. Talvez por isso as "coisas de casal" sejam tão recorrentes neste trabalho, porque ele é muito pessoal. Contudo, quem não se identifica com essas coisas todas? Acho que o grande trunfo do disco está na simplicidade dos temas e na possibilidade de identificação imediata.
O.H.: Doeu fazer o disco?
Julia: Não. Dizer que foi fácil é mentira, porque eu tive que abrir mão do meu auto-controle, das minhas inseguranças e medos, e falar de mim abertamente para quem eu nem conheço. Mostrar a voz as vezes é mais difícil do que parece, principalmente quando se canta uma vida inteira de espera. Mas foi bom, como um processo de terapia. Doer mesmo, só no bolso! Artista independente sofre é para pagar as contas!
O.H.: Qual seria a marca, em termos de autoralidade, da Julia Bosco?
Julia: Acho que ainda é muito cedo para dizer qualquer coisa de forma tão definitiva. A consolidação deste trabalho virá com o tempo (sempre ele!), neste primeiro registro musical eu prefiro não tentar dar nome a nada: nem à forma e nem ao conteúdo. Estou experimentando coisas, curtindo o percurso sem pressa de descobrir qual o destino final.
O.H.: Sua voz é muito meiga. E o seu olhar, forte. Concorda que força e leveza estão presentes em suas composições?
Julia: Sim, concordo. Mas acho que isso também é em função do momento. Quando fizemos as canções e eu gravei o disco, estava vivendo (estou ainda) este momento de amor e entrega, de mudança e fé. Então isso tudo de alguma forma deu o clima do trabalho. Mas nada impede que no próximo disco eu mostre um lado meu mais ousado, mais roqueiro e obscuro! Tudo em seu tempo...
.
O.H.: Como foi entrar no palco pela primeira vez? Qual a sensação?
Julia: A sensação inicial é sempre a mesma: mãos suando, coração acelerado,firo na barriga e muita ansiedade. Isso dura as duas primeiras músicas! Depois a sensação é de "daqui ninguém me tira hoje" ! A minha maior expectativa agora é de dividir pela primeira vez o palco com o meu pai, no meu show de lançamento aqui no Rio. Isso sim vai ser PUNK!
O.H.: Agenda para show?
Julia: Sim, por enquanto sei que o lançamento no Rio está confirmado para o dia 11/04 no teatro Rival, com participação de João Bosco. No mais, vou colocando no site www.juliabosco.com quando confirmado.
O.H.: Qual o recado manda para quem está começando a conhecer o seu " Tempo"?
Este é um tempo de amor e fé, de sol e alegria, de muitas novidades, e é de todos nós. Entre que a casa é sua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário